Um restaurante que é também um manifesto de identidade e de género. Diana Reis é a chefe do D’As Beatas, na Graça, em Lisboa, e usa a sua cozinha criativa como um veículo paralelo à comunicação de uma mensagem. Um espaço de liberdade e aceitação. Porque é por aí que tudo começa.
Fomos até ao bairro da Graça, em Lisboa, conhecer a Diana Reis, do restaurante D’As Beatas: é mais uma convidada da série de episódios especiais feitos pelo Assim Assado com o apoio da Paez, a que chamámos “Resistir de Pé”. Uma espécie de homenagem e tributo aos cozinheiros e chefes que, nos último ano batalharam (e batalham) para conseguirem ultrapassar um dos períodos mais negros das suas vidas profissionais.
“A minha cozinha não tem fronteiras. Podes estar a comer a comida da avó, mas depois tens fish sauce… se calhar aquilo que pensamos que é normalizado, aqui não o é”, diz Diana Reis, responsável pela cozinha deste restaurante onde só trabalham mulheres – ou que se considerem mulheres.
A ideia e a vontade começou a crescer há um par de anos. Diana estudou contabilidade, mas acabou por ingressar no Exército onde esteve sete anos. A gastronomia veio depois – e Diana nem nega que talvez tenha encontrado nas cozinhas um pouco do método e da disciplina que tinha no serviço militar. Depois de ter estado na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril, Diana Reis, que já tinha 30 anos, foi à procura da experiência que lhe faltava.
Passou pelo Feitoria e pelo Belcanto, ambos com estrelas Michelin, mas também começou a experimentar uma cozinha mais descomprometida, mas carregada de doses de criatividade, casos do Tapisco e do Boi-Cavalo. Mas foi com a sua companheira (e hoje sócia no D’As Beatas), Telma Santos, que começou a discutir questões de igualdade de género ou o “machismo nas cozinhas”.
D’As Beatas a provocar desconforto – no bom sentido
O D’As Beatas começou a ganhar forma no final de 2019. Perto de casa da Diana e da Telma, na Rua das Beatas, em Lisboa, havia um restaurante para trespasse e perceberam que era altura de avançar. A ironia do projeto, o lado desfiante, começa no nome do restaurante: As beatas são, tradicionalmente, mulheres devotas e seguidoras. Na parede está um logotipo com umas mamas desenhadas e com duas cruzes a tapar os mamilos por causa da censura das redes sociais. Na parede, o quadro de uma sereia de cauda cortada. E à mesa, uma carta também ela provocadora.
Diana Reis assume que gosta de “causar confusão” e algum “desconforto” na cabeça dos clientes – no bom sentido, é claro. Não há fronteiras nem barreiras. “Há um conforto, uma estranheza, uma aceitação e adoração. Passas por esses processos todos, mesmo que não chegues à adoração”, sorri. “E a minha comida também é assim.”
O menu d’As Beatas é muito variável, para ajudar Diana Reis a fugir à rotina. Mas a chefe revela que há alguns pratos-especialidade que “os clientes não deixam tirar da carta”: o wonton de escabeche de cogumelos; as guiosas de línguas de vaca; os camarões Camarões com alho e gochujang, molho ponzu e rúcula; ou a sobremesa, que está a ficar mítica lá para os lados da Graça, Pastel de Nata e Café (vale a pena ir descobrir).
“Resistir de Pé” é uma série de episódios que nascem da parceria entre o Assim Assado e a Paez, uma marca de calçado sediada em Portugal, que tem uma forte ligação emocional ao mundo da gastronomia, sobretudo aos projetos de cozinhas independentes.
A Paez não tem pretensões de mudar o mundo, pelo menos amanhã ou no mês que vem… o importante é pensarmos em “pequenos passos.. um dia de cada vez”.
A nova colecção da Paez já está disponível, nas lojas e online, e também a tentar fazer a diferença: esta primavera/verão com uma aposta na utilização de materiais reciclados pela primeira vez.