Bernardo Agrela deixou o fine dining para abrir um restaurante onde os amigos conseguissem ir provar a sua comida mais vezes. O East Mambo é um restaurante de kebabs onde comemos com as mãos, lambemos os dedos e onde podemos voltar com frequência.
A sala do East Mambo está cheia a meio da hora de almoço. O espaço, situado numa espécie de “financial district” de Lisboa, o Saldanha, desde agosto que se tornou numa referência para os almoços de muita gente que por ali trabalha. Percebe-se: rápido, prático e muito saboroso.
Não há jalecas. Há descontração: Bernardo Agrela de camisola de lã, de gola alta, junta-se a nós cá fora para uma pré-conversa antes do almoço que tinha combinado com o Assim Assado, até uma mesa vagar – desculpa para apanhar mais um pouco do ar fresco misturado com o sol de inverno. Na cozinha, separada da sala por uma cortina, ficam dois ajudantes do chefe, que não sai da sala do East Mambo sem antes perguntar a todos os clientes se está tudo do agrado. Todos respondem que sim, sorridentes, com os cantos da boca sujos de molhos; com as mãos com pedaços de borrego ou então com as batatas fritas divinais, de dupla fritura, que parecem pedaços de nuvens estaladiças – figura que eu próprio iria recriar dali a pouco tempo.
Ver esta publicação no InstagramSay hello to our East Mambo family ??? Mais uma fotógrafia que temos de agradecer ao @_duartecalf_
Virar a página
Era este prazer de comer que Bernardo Agrela procurava quando deixou para trás a liderança do Cave 23, no Jardim do Torel, um restaurante clássico de fine dining, exclusivo, onde os amigos do cozinheiro não podiam ir – ou então só podiam ir uma vez por ano. Bernardo queria ver os amigos mais vezes sentados à sua mesa, a provar as suas criações. E num restaurante de elite, isso nem sempre é possível.
Em agosto, Agrela virou uma página e arrumou muita coisa para o lado: desde o três estrelas Michelin onde estagiou em San Sebastian, com Martin Berasategui, quando terminou a Escola de Hotelaria de Santarém; as memórias do Four Season no Japão, o trabalho nas Maldivas, Seychelles ou Luxemburgo; deixou para trás a formalidade do Viajante e Loft de Nuno Mendes em Londres, mas não deixou para trás 15 anos de aprendizagem, de trabalho criativo, de uma busca constante por sabor. De Londres também nunca se esqueceu das noites com António Galapito e Nuno Mendes a comer kebabs, já depois da hora do fim do serviço. E Bernardo Agrela lembra-se bem desse sabor, que nunca mais conseguiu encontrar desde que regressou a Portugal. Estava aí a ideia para o seu espaço: um restaurante de kebabs.
Mambos de muitos tipos
A conversa prolongou-se por uma tarde inteira – e tanto tempo passou que me esqueci de tirar uma fotografia ao cozinheiro: obrigado ao Duarte Lebre de Freitas pela foto.
Primeiro conversámos na rua, depois na mesa corrida, ao almoço, com mais gente a juntar-se à partilha das histórias. Depois, já com a porta fechada – e a roçar já na hora do turno da noite – lá ligámos o gravador na mesa onde tínhamos estado a comer. Ficamos a conhecer melhor a história de Bernardo Agrela, 30 anos, chefe de cozinha, hoje a cozinhar Mambos do Oriente, mas a deixar no ar a ideia de mais pontos cardeais para este… Mambo.
Uma viagem que se vai prolongar por muitos anos, sem GPS, a não ser a imaginação e aquilo que Bernardo Agrela gosta de comer e de dar a comer aos amigos.